segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Entre laços

Casa nova, decorada.
Sensação de vida nova
A história de nós dois
Com um cheiro de arroz
Jogo fora as coisas velhas
Tiro a poeira dos armários
Encho a casa de camélias
Vou mudando os cenários
As cores também se transformam
Agora o cheiro é de tinta
De amarelo se enriqueceram
As paredes da cozinha
De azul passou o quarto
A ser vermelho bombeiro
Botei azulejos brancos
Nas paredes do banheiro
No chão coloquei taco
Mas não no da cozinha
Continuou sendo piso mesmo
A obra não condizia
Até a louça trocaram
Comprei prato, copo e talher.
As mesas ainda não montaram
O montador é mulher
A casa mudou bastante
Já não é aquele ovo
Ainda hoje alugo um filme
E estreemos o colchão novo

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O tempo, o ano e o disfarce

Cada tempo uma história,
um pensamento,uma novidade,um disfarce;
Cada ano um pensamento,
uma novidade,um disfarce;
Cada mês uma novidade,
um disfarce;
Cada semana um disfarce,
uma novidade, um pensamento, uma história;
Cada dia nenhuma certeza,
nenhum disfarce, nenhuma novidade,nenhum pensamento e várias histórias!
O que ouvimos não é certeza.
Não temos certeza de nada!
O mundo gira, gira, gira...
O que ouvimos não é disfarce.
Apenas uma forma de dizer algo!
O mundo gira, gira, gira...
O que ouvimos não é novidade.
Muitos já ouviram o que estamos esperando para ouvir!
O mundo gira, gira, gira e retoma o passado!
O que ouvimos não são pensamentos.
SÃO HISTÓRIAS!
O mundo gira, gira, gira e continuará a girar.
Tacia Vergílio.

domingo, 30 de novembro de 2008

Noir



quando ví, achei Noir, intocável
peça rara, de preço inestimável
com estilos e formas
lapidadas por artistas
como um soneto
uma poesia parnasiana.

será raro ou faz tipo?
pergunta meu instinto
aguçado pelo original
sem distingüir a razão
sem despencar amoral

sei da tua ânsia
já fui jovem, criança
o desejo de brilhar
para encantar
já dominou minha sensatez

passei por cima da razão
disvirginei um coração
que de tão menina
só amava a ilusão
e vivi a saga de fazer paixão

fui dama, donzela, meretriz
tudo que meu destino quis
seduzí, alucinei e saí
como saem as amantes de Paris
afundei marinheiros e petroleiros

porque viver de amor não vivi
queria o novo
o audaz
o intrépido
o feroz
a esse me dei
e estou condenada
a ser FELIZ.

sim todos os dias ensaio para ser atriz!

SRa. Mariléia RÉGIS

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Claridéia

Na noite enluarada, falo e faço,
Na morte que vem breve eu agradeço.
Por fora muito amada me disfarço
Por dentro, sempre triste me reconheço.

Não gosto de pensar no que tu fazes,
Obriga-me e eu imploro o teu perdão.
Um senhor, para quem lhe é do mundo,
Um búfalo, para quem é a sua mão.

Há a hora em que desisto da vida
E penso em me entregar ao meu destino
Que é morrer sem amor e sem saída.

Embora uma refém, e mal-amada.
Sinto que o amor aqui está preso
Errei na escolha, e é o azar que mereço.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008


Trabalho

T é letra de trabalho
Mas de tédio também é
De tontura, de tortura
E lá vai o seu José

Sonolento o dia inteiro
Sem vontade, sem paixão
Cinco dias, que braseiro
Nem à noite tem tesão

Trabalho foi inventado
Por quem não tem coração
Não é belo, nem honrado
E sim fonte de depressão

Nem compensa seu salário
De onde lhe vem o pão
Tão pouco, se sente otário
Dá dinheiro ao seu patrão

Dia desses como tantos
Acorda de novo seu José
Cansado, fica em prantos
Nem sabe que hora é

Atrasado é demitido
Sem moeda pro café
Seu chefe que era amigo
Hoje nem colega é

De trabalhador modelo
Foi pro fundo do caixão
Enterrado por coveiro
Não faz falta na produção

Entra João na lida
Mais um na multidão
Com pessoa falecida
Abre vaga pro irmão

Nessa rotina corrida
Que Ninguém vai perceber
Acabou um dia a vida
Todo mundo vai morrer

Thiago C M

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sem culpa

Anda feliz e se emociona toda vez que a vê.
Quando a tem não se importa com mais nada.
Respira sempre fundo quando fala,
E quando se separa, conta horas para rever.

O vício que o acompanha é sempre ativo,
Existe em sua alma de menino.
Não sabe o que é viver sem ter por perto
Um pouco da quimera como instinto.

Assombra na noite com ratos e baratas.
Pula muros, buracos e poças d’águas.
De dia é menino com pupilas dilatadas

E vai se entorpecendo, não ampare.
Os dois se amam, os dois se justificam,
Até que a morte em breve os separe

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Beijo de menino


Todo o beijo foi delicado
Desde antes no olhar
No momento em que nos tocamos
E o gosto, que aos poucos foi decifrado.
O sangue correu ligeiro

As pernas ficaram bambas
As mãos ficaram suadas
Numa espécie de transe, nem fechei os olhos.
Quem mandava era o coração,
Que nessa hora, pulsava mais que o comum.

Sendo breve ou sendo longo
Para mim não importava
Das duas formas seria inesquecível
Fui menino e fui criança
Tive medo

Ao afastar-me, pude ver seus olhos,
Bem mais tranqüilos que os meus
Tomei de uma euforia
Que de tão forte
Sacudiu o mundo

Hoje quando relembro
Já maduro e um tanto decepcionado
Consigo provar do gosto na memória
Arrepiar os pelo do pescoço
Sentir a temperatura

E envergonhar-me até
Daquele que foi meu primeiro beijo
Meu beijo de menino.

terça-feira, 23 de setembro de 2008



O poeta descreve o que era naquele
tempo a cidade da Bahia.


A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.


Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,


Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.


Nosso primeiro estilo literário foi o Barroco, podemos dizer que abrimos com chave de ouro. Gregório de Mattos (GdeM) foi um autor que intercalava entre o amor, a crítica severa ao governo, a poesia sacra e a crítica contra a igreja. Apesar de quase 500 anos, se fizermos uma assossiação com o contexto atual vemos que se encaixa direitinho. Na primeira estrofe GdeM faz uma daquelas críticas azedas a Portugal, que era a cultura dominante da época. Hoje Portugal não influencia tanto nossa cultura, mas temos outros colonizadores mais perigosos. Não saber governar sua cozinha não parece ser um impecílio para quem quer mexer na cozinha do outro. O efeito é natural, visto que não percebemos quando estamos sendo influenciados. Ao escolhermos uma roupa, ou o lugar onde lanchar, não repensamos o nosso lugar de preferência. Temos em nosso país uma quantidade absurda de marcas e indústrias comandando a economia de nosso país.


Agora vejamos os dois tercetos do poema: GdeM vivia no começo do regime escravista, era uma pedra no sapato daqueles que estavam metidos em escândalos no governo, principalmente na cidade da Bahia. Mas mesmo assim não podemos vê-lo como um santo, ou um salvador, pois o mesmo também era envolvido nesses escândalos. As marcas do trabalhador estão nas mãos, e quem mais trabalha não tem usuras, ou seja, não pode brincar. Agora experimente trocar a Bahia do último verso para Brasil ... chega a ser hilário.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008


Elegia ao suor


Eu chego, me calo

Deito-me na cama

Esvazio a cabeça

Você passa do lado fingindo indiferença e entendendo o que passo

Preparou o conjunto de peças de roupas pra desafiar o meu olhar:

Sempre perco

Num ato sem culpa

agarro tuas coxas, te faço boneca, te jogo pro alto como trapezista de circo.

Procuro teu seio buscando a energia que perdi durante o dia

Vejo a gota de suor que escorre da tua testa que desce o pescoço

Procuro tua boca nervosa onde vaza a saudade de um dia inteiro sem se ver

A língua percorre espaços que são sempre novos diante de um homem afoito como eu

Esqueço da briga passada que eu havia prometido a mim mesmo pedir desculpas

Depois que tudo termina permaneço quieto te cheirando sentindo calor

Escuto teus últimos sussurros de amor

Te olho novamente com olhos quietos felizes

A verdade é que não te perco nunca

A verdade é que não dá pra dizer

A verdade é que já sei como

Nem sempre precisamos

Nos falar ou calar

A verdade é que

AMO-TE

vero

quarta-feira, 17 de setembro de 2008


Lata d'gua(Luís Antonio e J. Júnior)Lata d'água na cabeça

Lá vai Maria

Lá vai Maria

Sobe o morro e não se cansa

Pela mão

Leva a criança

Lá vai Maria

Maria

Lava a roupa

Lá no alto

Lutando pelo pão

De cada dia

Sonhando com a vida

Sonhando com a vida

Do asfalto

Que acaba

Onde o morro principia


Postei essa música, porque tenho um carinho especial por ela. Apesar de simples, é uma música que me tráz uma recordação muito singular do lugar onde vivi. A cena que se remete na canção, foi muito comum ao meu olhos quando eu era garoto. No morro onde eu vivia ainda se dizia que a mulher era mais fraca que o homem. Na minha visão isso não é discutível, o homem não carregava a lata d'água, isso era um trabalho extremamente feminino.

Minha avó foi uma dessas Marias, sozinha criou 14 filhos, dos quais 2 morreram por doenças da vida. Ha pouco tempo achei uma fotografia na internet que foi o que fez me recordar dessa música e também recordar da minha infância. Das incanssáveis mulheres como minha avó, que lutaram por seus filhos e hoje são idosas sábias. Essa é entre outras uma riqueza do lugar onde eu vim. O Morro do Jacarezinho.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

"A ocasião faz o furto, o ladrão nasce pronto."

Aqui postarei reflexões e contrações,
Aqui postarei palavras e fotografias,
Aqui onde o mundo é contra razões,
Aqui farei o que qualquer poeta faria:
rascunho